Headphone Actor I
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Apenas
eu e minha sombra estávamos parados no corredor ao pôr do sol.
Antes, eu podia ouvir as músicas tocadas
no rádio pelos fones de ouvido pendurados no meu pescoço.
Mas agora, eu escuto um barulho, além de
ouvir algo parecido com a voz de uma pessoa.
A atmosfera estava obviamente diferente,
então eu, curiosa, os coloquei.
A voz intermitente gradualmente começou
a formar palavras.
Parecia falar de notícias sobre o
presidente de algum país.
Era como uma performance, com um tom de
voz exagerado, e uma tradução simultânea atrasada.
Tinha bastante barulho atrapalhando, mas,
de alguma forma, eu consegui entender o que foi dito.
“...é uma coisa...realmente
desagradável....mas...hoje...o mundo irá...acabar.”
Uma vez que essas palavras foram
pronunciadas, eu pude ouvir diversos gritos e muitas palavras as quais eu não consegui
compreender.
Mesmo que eu tirasse meus fones, a
aparência desse pandemônio estava tão clara que chegava a doer.
Do lado de fora da janela tingida de
vermelho, uma lua crescente estava flutuando no céu roxo-escuro, obscurecida
por vários pássaros; era quase como um conjunto de formigas negras.
Removendo meus fones, eu voltei para
minha sala, olhando em volta; um jogo meio acabado e uma montanha de livros
refletiam o pôr do sol, tornando-se laranja.
Eu me pergunto o que estava fazendo até
agora.
Eu tinha uma vaga impressão de que
estava falando com alguém há poucos instantes antes, mas não conseguia me
lembrar de mais nada.
“...Com certeza é algum tipo de piada.”
Eu sussurrei, em uma tentativa de
persuadir a mim mesma; abri uma das janelas ao longo do corredor. Uma vez que
eu o fiz, ouvi uma sirene a qual nunca tinha escutado antes, conjuntamente com
os choros e gritos de diversas pessoas.
Aquele barulho vagarosamente tornou-se
mais e mais alto, tomando conta de toda a cidade.
Meus lábios estão tremendo, meus dentes
estão batendo.
Eu estou sozinha.
Não há mais ninguém aqui.
E logo, eu deixarei de existir.
As batidas do meu coração aceleram e as
minhas lágrimas escorrem até o meu queixo.
Eu odeio ficar sozinha. Ficar sozinha é
assustador.
Para que eu possa fugir desse mundo que
está sendo engolido em um redemoinho de desespero, para que eu possa me isolar,
eu coloco de volta meus fones de ouvido.
O som do rádio parou, e eu não escuto
nada além de barulho agora.
“...Será que eu devo desistir de tudo
agora...”
No instante em que eu murmurei isso, eu
senti como se houvesse escutado algo.
Quando eu prestei atenção, parecia que
uma voz falava somente para mim.
E, finalmente, eu percebi.
Aquela voz, não era a de mais ninguém a
não ser a de mim mesma.
“Ei, você pode me ouvir? Ainda tem um lugar que você quer ir e algo que
você quer dizer, não é?”
Eu não conseguia lembrar o que eu queria
dizer nem aonde eu queria ir.
Mas, por alguma razão, eu senti como se
eu tivesse entendido o sentido daquelas palavras.
“Está tudo bem, acredite em mim. Se você
conseguir chegar naquela colina, você entenderá o sentido disso, mesmo que você
não queira. Se você continuar aqui, você irá apenas desaparecer. Ei...”
Enquanto eu secava as lágrimas que ameaçavam
cair novamente, eu respirei fundo.
“Você quer sobreviver, certo?”
Naquele dia, quando o mundo acabou.
Com a minha própria voz como guia, eu
corri com todas as minhas forças sobre o chão que não parava de tremer.
Postado por Unknown às 14:16 //
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